Te peguei, não é? Mas não se preocupe, todos nós reclamamos e criticamos de alguma forma e isso não é necessariamente ruim.
Críticas construtivas ou reclamações fúteis?
Em várias situações, neste blog e mundo afora, costumo criticar como desenvolvemos e gerenciamos projetos de software. Por outro lado, em sombrios cantos de cozinhas e corredores de empresas ouvem-se constantes reclamações despreocupadas que vão desde a cor da cortina do escritório até o aroma do sabão da pia do banheiro. Qual a diferença?
Quando estamos inconformados com uma situação e queremos melhorar, nossa crítica terá o objetivo de gerar mudança e o resultado é positivo. Uma crítica construtiva é aquela que possui um fator motivador e gera ação nas pessoas. Por exemplo, meu objetivo com artigos de auto crítica é levar o leitor a uma reflexão sobre si mesmo e o ambiente ao seu redor, fazendo-o sair da inércia. Meus erros são uma escola para mim e quanto antes os identifico e os supero, mais benefícios colherei mais cedo.
Mas, infelizmente, quantas vezes dizemos coisas que não acrescentam em nada e geram insatisfação em nós e em nossos colegas? Estamos sendo um empecilho para nossas carreiras e para quem nos ouve. Considero vazia e sem sentido a crítica que fica apenas nela mesma. Seria melhor não a termos declarado.
A boa notícia é que, com um pouco de esforço, podemos transformar nossas reclamações vazias em críticas construtivas. Ao invés de dizer “o processo que usamos é um lixo”, não seria melhor pensar um pouco e mudar para “se ajustássemos a atividade X dessa forma Y, nossa produtividade aumentaria”? Ao invés de reclamar para todos os colegas que “o chefe não reconhece o meu trabalho”, seria melhor eu me esforçar para que o resultado do meu trabalho seja mais tangível de forma que possa frequentemente reportar visivelmente o progresso obtido.
Pense como seu chefe
Isso pode ser ofensivo para alguns, mas tenha paciência e acompanhe meu raciocínio um pouco mais.
Ao fazer uma crítica desdenhosa a um superior, você não ganha nada. Apenas reforça a barreira imaginária entre patrão e empregado. Se você quer crescer profissionalmente, coloque-se no lugar dessa pessoa e tente pensar como ela. Isso não significa se tornar igual a ela. Mesmo não concordando com algumas de suas atitudes, você deve compreender suas motivações. Não há problemas em discordar, mas será que você é capaz de propor uma solução comprovadamente melhor para as dificuldades que surgem sem simplesmente criticar a decisão do chefe ou gerente? Qual seria a reação dele se você propusesse uma boa solução?
A verdade é que na maioria das vezes nossas críticas são ignorantes, pois não temos “conhecimento de causa”. Nós reclamamos do nosso trabalho, não o fazemos direito e ainda assim achamos que podemos ser melhores do que os outros. Seja sincero: você acha que seu chefe vê algum potencial de crescimento em você se nem seu próprio trabalho atual é feito com empenho?
Por outro lado, poderíamos alcançar muito mais sucesso profissional se fôssemos capazes de produzir algo de valor para nossa área de negócio do que simplesmente sendo funcionários exemplares que chegam no horário e fazem muitas horas extras. Você é um excelente programador? E daí? Isso não tem a mínima importância se os clientes não estão mais satisfeitos do que com a concorrência. Você sempre fica até mais tarde? Mas se não entregar um produto de qualidade, está apenas desperdiçando energia elétrica. Por que temos essa mentalidade de que somos remunerados pelas oito horas diárias de trabalho? Se o valor do seu trabalho está em passar o tempo dentro da empresa, uma pedra prestaria um melhor serviço.
Diga-me com quem andas…
Um dos conselhos que seguramente daria para qualquer pessoa com relação ao ambiente de trabalho é: sempre ande em boa companhia. Quando passamos muito tempo com as pessoas pegamos o jeito delas. Minha esposa viajou há muito tempo para o nordeste e, em uma semana, ela simplesmente não conseguia mais falar sem o sotaque local.
Fique junto de pessoas descontentes, amarguradas, que sempre arranjam desculpas para não estudar coisas novas, que não se esforçam no trabalho e as chances são de que você, no mínimo, vai ter um rendimento menor do que poderia. Ande com pessoas mais experientes, que gostam de aprender e almejam mais da vida e constantemente você será contagiado pelo desejo de progredir.
Conclusão
Eu poderia escrever uma enciclopédia com exemplos de como nossa mentalidade é deturpada por anos de uma cultura dualista entre burguesia e proletariado, que gera tensão constante entre esses dois “lados”. Ou ainda poderia discorrer sobre uma longa lista de conselhos específicos sobre ética comportamental. Porém, vou concluir desafiando o caro leitor com uma paráfrase de uma expressão que minha esposa usa comigo algumas vezes:
Você acha que tem potencial? Pare de reclamar e mostre o seu valor!